Caros Leitores;
Giuliano Guandalini
O domínio da automação plena dos veículos é tido como “o projeto de todos os projetos” em inteligência artificial – e a Tesla é a candidata mais bem posicionada para chegar lá. Na busca pelo domínio dessa tecnologia, a empresa desenvolveu uma arquitetura avançada de computação que deu a ela uma “vantagem assimétrica” em um mercado potencial de US$ 10 trilhões – eu disse ‘trilhões’. Essa é a tese central dos analistas do Morgan Stanley, que esta semana revisaram o preço-alvo da ação de US$ 250 para US$ 400. (O papel sai hoje a US$ 267.) A “vantagem assimétrica” da Tesla responde pelo nome de Dojo, um supercomputador customizado, desenvolvido in-house, e que, segundo o time do Morgan Stanley, poderá agregar US$ 500 bilhões ao valuation da companhia. Para os analistas do banco, daqui para frente o driver dos resultados da empresa virá cada vez mais das receitas com software e serviços. Segundo eles, as mesmas forças que fizeram a AWS atingir 70% do EBIT da Amazon poderão atuar na empresa de Elon Musk, “abrindo novos mercados que são bem mais amplos do que a venda de veículos a preços fixos.” O catalisador para a empresa assumir o topo nesse mercado é o Dojo, o projeto de supercomputador que a Tesla vem desenvolvendo nos últimos cinco anos. “Acreditamos que o Dojo poderá adicionar US$ 500 bilhões no valor da Tesla, expressos por uma taxa de adoção mais rápida na mobilidade (táxi robô) e nos serviços de rede (SaaS),” dizem os analistas. “Quanto mais analisamos o Dojo, mais percebemos o potencial de valor subprecificado na ação.” Em japonês, dojo ou dojô significa “lugar do caminho”. É o local para a prática de artes marciais. Na indústria japonesa, dojo é onde os novos funcionários e colaboradores passam pelo treinamento. Já o Dojo da Tesla está sendo criado para treinar os sistemas de direção autônoma. O maior obstáculo a ser superado para desenvolver essa tecnologia é a capacidade de coletar e processar informações nas situações vividas pelos motoristas no dia a dia. É com esses dados, capturados ininterruptamente por câmeras e sensores instalados nos carros, que o supercomputador treina as novas versões do piloto automático. A frota total de carros da Tesla em circulação soma 5 milhões de veículos, mas o número deverá chegar a 50 milhões no final desta década, dando a dimensão do avanço no número de informações da base de dados. Para cumprir os objetivos de seu plano de desenvolvimento, a Tesla precisa de uma capacidade computacional enorme. Os seus executivos dizem que a Nvidia, seu principal fornecedor de clusters de data centers, não vinha conseguindo atender a sua demanda física para mais capacidade computacional. Elon Musk fez menção ao projeto do Dojo pela primeira vez em 2019. Em 2021, a Tesla anunciou oficialmente o D1 Dojo, um processador customizado para suportar cargas de trabalho mais pesadas e acelerar o treinamento dos sistemas de inteligência artificial. Ele será o neurônio do novo supercomputador. Segundo o relatório do Morgan Stanley, a Tesla acredita que poderá criar um sistema mais eficiente, voltado para suas necessidades específicas – e, de quebra, não vai contribuir para alimentar as margens de até 60% da Nvidia, sua concorrente no mercado de sistemas de automação dos veículos. Fabricado pela TSMC, o chip tem mais de 50 bilhões de transistores. Como sua principal função é processar as informações das imagens captadas pelos carros, o chip deverá ser mais eficiente nesse propósito do que os processadores de uso geral disponíveis no mercado. O custo também é menor. As estimativas divulgadas pela Tesla mostram que o D1 oferece uma economia de 6x na comparação com a utilização de outros semicondutores avançados. “Nas nossas contas, quando comparamos o que a Tesla teria que gastar para ter um nível equivalente de computação usando a Nvidia como fornecedora, o Dojo pode trazer uma economia de US$ 6,5 bilhões nos próximos dois anos,” escrevem os analistas. O Dojo começou a ser fabricado em julho. O supercomputador deverá entrar em operação no início do próximo ano. Em um mercado no qual já existe uma competição intensa na oferta de veículos elétricos, o que também torna a Tesla única é sua longa experiência com os sistemas avançados de assistência na direção. Os veículos produzidos pela companhia já rodaram mais de 500 milhões de quilômetros – e, obviamente, produziram uma base gigantesca de informações. No relatório de 66 páginas publicado na segunda-feira, o Morgan Stanley passou a ser a casa mais otimista (entre os principais bancos de Wall Street) com o potencial de valorização da Tesla. O Citi tem um preço-alvo de US$ 278; a Goldman Sachs, de US$ 275, e o JP Morgan, US$ 120. O market cap da Tesla está em US$ 849 bilhões. Com o preço-alvo do Morgan Stanley, o upside é de quase 50%.
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