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São oito usinas comerciais e dois projetos-piloto para o hidrogênio em andamento no país (Foto: Alexander Kirch/Shutterstock)
Mais de US$ 30 bilhões em investimentos estão previstos para a fonte, em dezenas de usinas ao redor do país.
Nos últimos dois anos, dezenas de projetos para produção de hidrogênio verde no Brasil foram anunciados. Estima-se que juntos eles somem mais US$ 30 bilhões em investimentos, de acordo com levantamento do Instituto Nacional de Energia Limpa (Inel).
A maior parte ainda está em estudo de viabilidade, com apenas memorandos de entendimento assinados com portos e governos estaduais. Entretanto, o Brasil já começa a ver alguns empreendimentos saírem do papel, entre pilotos e plantas de escala industrial.
Os projetos estão concentrados nos portos-indústria do Brasil, que agregam algumas características importantes.
Além de contarem com a infraestrutura para exportação do hidrogênio, os portos possuem potenciais consumidores domésticos e estão próximos a grandes projetos de eólicas offshore, com enorme capacidade de produção de energia renovável.
O que é o hidrogênio verde?
Ainda há uma discussão sobre a nomenclatura do hidrogênio em relação à intensidade de sua emissão de carbono.
Mas o critério mais aceito é que o hidrogênio verde é produzido através da eletrólise da água — separação das moléculas de oxigênio e hidrogênio — com o uso de energia renovável, como hidrelétrica, eólica, solar, biomassa ou biogás.
Também é considerado verde o hidrogênio produzido a partir de reforma e gaseificação de biomassa e biogás, alimentado por resíduos agroindustriais.
Como é usado o hidrogênio verde?
O hidrogênio verde é apontado como alternativa para a descarbonização de setores com alta intensidade de emissões de carbono, como transporte, petroquímico, siderurgia e mineração.
Pode substituir os combustíveis fósseis em veículos leves, caminhões, trens e navios; atuar como energético industrial nas indústrias de cimentos, aço e papel, e celulose; e servir de matéria-prima na siderurgia, produção de fertilizantes e refino de petróleo.
Não há consenso sobre melhor forma de transporte do hidrogênio em larga escala. Entre elas, estão a injeção de hidrogênio na malha de gasodutos existentes, ou a construção de gasodutos dedicados.
Outra aposta é a conversão do hidrogênio em amônia para viabilizar o transporte de longas distâncias em navios. Em geral, dez toneladas de hidrogênio podem ser convertidas em aproximadamente em 60 toneladas de amônia.
Veja abaixo 10 das principais iniciativas para produção de hidrogênio verde no Brasil, listados de acordo com o andamento dos projetos.
São oito usinas comerciais e dois projetos-piloto.
Unigel (Bahia)
Conhecida pela produção fertilizantes, a Unigel já iniciou as obras do que será a primeira planta de produção de hidrogênio verde em larga escala do Brasil. A fábrica será instalada no Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia.
O plano da companhia é investir US$ 1,5 bilhão no empreendimento até 2027, Polo Petroquímico de Camaçari e produzir 100 mil toneladas anuais de hidrogênio verde e 600 mil toneladas/ano de amônia verde.
Para a primeira fase do projeto, a Unigel adquiriu da thyssenkrupp três eletrolisadores com potência total de 60 MW de energia.
- Investimento: US$ 1,5 bilhão
- Produção de hidrogênio: 100 mil toneladas/ano
- Produção de amônia: 600 mil toneladas/ano
- Capacidade de eletrólise (primeira fase do projeto): 60 MW
- Início previsto: 2023
- Operação plena: 2027
Qair (Pernambuco)
A Qair Brasil, do grupo francês Qair, espera investir cerca de US$ 3,9 bilhões até 2032 na instalação de duas usinas no Complexo Industrial e Portuário de Suape, em Pernambuco. Uma produtora de hidrogênio verde e outra planta de hidrogênio azul – produzido a partir do gás natural com captura de carbono.
A empresa foi a única a participar da licitação de concessão de área aberta pelo Suape para instalação das plantas e aguarda assinatura do contrato.
O projeto será construído em quatro etapas, até alcançar 2240 MW de capacidade e 488 mil toneladas de hidrogênio por ano, sendo 290 mil toneladas de hidrogênio verde e 198 mil toneladas de hidrogênio azul.
- Investimento: US$ 3,9 milhões
- Produção de hidrogênio verde: 488 mil toneladas/ano
- Produção de hidrogênio azul: 198 mil toneladas/ano
- Capacidade de eletrólise: 2,2 GW
- Início previsto: 2025
- Operação plena: 2032
Qair (Ceará)
A Qair pretende replicar um projeto nos mesmos moldes no Complexo Portuário Industrial do Pecém (CIPP), no Ceará. A companhia, inclusive, já adquiriu uma área no porto para instalação do empreendimento.
Porém, diferente do projeto em Pernambuco, além dos US$ 3,9 bilhões nas plantas de hidrogênio, Qair irá investir mais US$ 3 bilhões em um projeto de eólica offshore, de 1,2 GW, nos arredores do Pecém, que produzirão a energia renovável necessária para a produção de hidrogênio verde.
- Investimento: US$ 6,9 bilhões
- Produção de hidrogênio verde: 488 mil toneladas/ano
- Capacidade de eletrólise: 2,2 GW
- Capacidade de energia eólica offshore: 1,2 GW
- Início previsto: não divulgado
Casa dos Ventos e Comerc (Ceará)
A Casa dos Ventos e a Comerc Eficiência assinaram em dezembro do ano passado um pré-contrato com o Complexo Portuário Industrial do Pecém (CIPP), no Ceará, para a instalação de unidade fabril de produção de hidrogênio e amônia verde.
Os investimentos previstos são de cera de US$ 4 bilhões até 2030. O início da primeira fase da operação é previsto para 2026.
Quando em plena capacidade operativa, a planta terá capacidade de até 2,4 GW de eletrólise para produção de mais de mil toneladas de hidrogênio por dia e 2,2 milhões de toneladas de amônia verde por ano.
- Investimento: US$ 4 bilhões
- Produção de hidrogênio verde: 365 mil toneladas/ano
- Produção de amônia verde: 2,2 milhões de toneladas/ano
- Capacidade de eletrólise: 2,4 GW
- Início previsto: 2026
- Operação plena: 2030
Fortescue (Ceará)
A usina de hidrogênio verde, projetada pela gigante australiana da mineração, Fortescue, deve ser instalada no Complexo do Pecém com investimento de US$ 6 bilhões.
Globalmente, o objetivo da gigante da mineração é produzir 15 milhões de toneladas por ano de hidrogênio verde até 2030, subindo para 50 milhões de toneladas por ano na década seguinte.
Recentemente, representantes da companhia no Brasil estiveram reunidos com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, para discutir a regulação do hidrogênio no país.
A empresa foi uma das primeiras a assinarem um memorando de entendimento com o Ceará, em 2021, para integrarem o hub de hidrogênio verde do Pecém.
Em junho de 2022, assinaram um pré-contrato, e em novembro, durante a COP27 no Egito, reforçaram a intenção de desenvolver um projeto de hidrogênio verde no Ceará, com início da produção em larga escala já em 2027.
- Investimento: US$ 6 bilhões
- Produção de hidrogênio verde: 15 milhões de toneladas/ano (meta global)
- Início previsto: 2025
- Operação plena: 2027
AES (Ceará)
A geradora de energia renovável AES Brasil tem um pré-contrato com o Complexo Industrial Portuário de Pecém (CIPP) para iniciar os estudos de viabilidade para produção de até 2 GW de hidrogênio a partir da eletrólise e de até 800 mil toneladas de amônia verde por ano.
A companhia está de olho na exportação da produção, principalmente para países da Europa.
O pré-contrato da AES é o passo seguinte ao Memorando de Entendimento assinado em dezembro de 2021, com investimento estimado em até US$ 2 bilhões, nos cinco primeiros anos.
- Investimento: US$ 2 bilhões
- Produção de amônia verde: 800 mil toneladas/ano
- Capacidade de eletrólise: 2 GW
- Início previsto: não definido
White Martins (Pernambuco)
A White Martins, do grupo alemão Linde, começou a produzir hidrogênio verde em média escala em dezembro de 2022, em Pernambuco. A expectativa é que 156 toneladas de H2V sejam produzidas por ano.
O combustível produzido neste primeiro momento vai atender o mercado pernambucano. Mas o plano é ampliar a produção e fornecimento. A empresa já possui memorandos de entendimento para produção de hidrogênio de eletrólise no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Ceará.
A companhia é hoje uma das maiores produtoras no Brasil de hidrogênio cinza — feito a partir de gás natural.
- Investimento: não divulgado
- Produção de hidrogênio verde: 156 toneladas/ano
- Início da operação: 2022
Projetos-piloto de hidrogênio verde
Eletrobras Furnas (Goiás/Minas Gerais)
Em dezembro de 2021, a Eletrobras/Furnas inaugurou nas instalações da Usina Hidrelétrica de Itumbiara, na fronteira de Minas Gerais e Goiás, uma planta de estudos para produção de hidrogênio verde.
O projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), com investimentos de aproximadamente R$ 45 milhões já produziu 1,5 tonelada de hidrogênio verde.
A pesquisa é regulada pela Aneel e tem o objetivo de testar o armazenamento de energias sazonais e intermitentes e a inserção no Sistema Interligado Nacional (SIN).
Numa primeira etapa, foi instalada a planta fotovoltaica com capacidade para produzir 1000 kWp (quilowatts pico, unidade de potência associada à energia fotovoltaica), dos quais 200 kWp são provenientes das placas flutuantes sobre o reservatório e 800 kWp de placas instaladas em solo.
A ideia, segundo a companhia, é que as análises gerem informações para o desenvolvimento de projetos de grande porte.
- Investimento: R$ 45 milhões
- Produção de hidrogênio verde até agora: aproximadamente 1,5 tonelada
- Capacidade de geração de energia: 1 MW
- Início da operação: 2021
EDP (Ceará)
A EDP Brasil inaugurou no início do ano o seu projeto-piloto de hidrogênio verde, no Complexo Termelétrico do Pecém, onde opera uma usina à carvão. A inauguração teve a presença do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
O empreendimento conta com investimentos de R$ 42 milhões e deve ser concluído em junho de 2024.
A planta conta com uma usina solar com capacidade de 3 MW e um módulo eletrolisador com capacidade de produzir 250 m3/h do gás.
Até 2025, o grupo planeja investir cerca de R$ 18,2 bilhões no país, sendo R$ 5,7 bilhões em energia solar.
- Investimento: R$ 42 milhões
- Produção de hidrogênio verde: 250 Nm3/h
- Capacidade de eletrólise: 3MW
- Início da operação: 2022
- Operação plena: 2024
Shell/Raízen/Hytron/Toyota (São Paulo)
Um acordo inédito, Shell, Raízen, Hytron, Universidade de São Paulo (USP) e Senai CETIQT, e mais recentemente a Toyota, pretende investir em plantas dedicadas à produção de hidrogênio a partir do etanol e um posto de abastecimento para ônibus que circula na Cidade Universitária, em São Paulo.
O acordo prevê a construção de duas plantas capazes de produzir 5 kg/h de hidrogênio e, posteriormente, a implementação de uma unidade 10 vezes maior, de 44,5 kg/h.
A proposta é usar o combustível para substituir o diesel em um dos ônibus utilizados pelos estudantes no campus da USP. O veículo será equipado com a tecnologia de célula a combustível.
A produção do hidrogênio verde a partir do etanol poderia ser interiorizada e aproveitada para descarbonizar a indústria local e o transporte pesado.
O biocombustível será fornecido pela Raízen e a tecnologia desenvolvida e fabricada pela Hytron, do grupo alemão Neuman & Esser. A Toyota deverá disponibilizar o seu modelo Mirai, movido a célula a combustível, para realização dos testes.
O projeto será financiado pela Shell Brasil, por meio da cláusula de Pesquisa e Desenvolvimento da ANP, com investimento de aproximadamente R$ 50 milhões.
- Investimento: R$ 50 milhões
- Produção de hidrogênio verde: 390 toneladas/ano
- Início previsto: 2023
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Web Science Academy; Hélio R.M.Cabral (Economista, Escritor e Divulgador de conteúdos de Economia, Astronomia, Astrofísica, Astrobiologia Climatologia). Participou do curso (EAD) de Astrofísica, concluído em 2020, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
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