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quinta-feira, 16 de março de 2023

O que aconteceu com o Credit Suisse? Entenda

 Caros Leitores;

Após crise bancária nos Estados Unidos, ações do banco suíço despencam com descoberta de 'fragilidades' nas contas da instituição. Como este episódio pode afetar os mercados? Entenda

Como se não bastasse a crise bancária desencadeada pela quebra do Silicon Valley Bank (SVB) nos Estados Unidos, na quarta-feira (15), os mercados despencaram com notícias envolvendo o Credit Suisse. Dessa vez, o estopim foi o anúncio de que seu principal acionista, o Saudi National Bank, da Arábia Saudita, não vai aumentar sua participação na instituição. Mas afinal, estamos ou não diante de um risco sistêmico? Isso pode respingar no Brasil? O Valor Investe ouviu especialistas para explicar a questão em cinco pontos.

1) O que aconteceu com o Credit Suisse?

O balanço do Credit Suisse no quarto trimestre de 2022, divulgado em fevereiro, mostrou que o banco teve o quinto prejuízo consecutivo. Mas o problema não foi só esse. Na última terça-feira (14), a empresa informou ter identificado "fragilidades materiais" significativas em seus relatórios financeiros dos últimos dois anos.

Os problemas, portanto, não são de hoje. Recentemente, duas empresas deram ao Credit Suisse prejuízo de US$ 15 bilhões ao falirem após tomarem recursos do banco. Investigações mostram que houve falhas na análise de riscos da instituição suíça.

Assim, vem sendo criada uma insegurança a respeito do funcionamento e, consequentemente, do futuro do banco.

2) No caso do Lehman Brothers, a crise era de crédito. No caso do SVB, de juros. Sobre o que é a crise do Credit Suisse?

A crise do Lehman Brothers, que culminou na falência do banco em 2008, teve como principal motivador os empréstimos de segunda linha, que têm alto risco de inadimplência. Na época, os bancos norte-americanos concederam muitos dos chamados "créditos podres" (títulos de difícil recuperação) no início dos anos 2000. Porém, com a alta da taxa de juros no país, muitas pessoas tiveram dificuldade de honrar com esses empréstimos. A solução foi dar o imóvel hipotecado como pagamento da dívida. O resultado disso foi uma desvalorização do mercado imobiliário que causou prejuízo para várias instituições financeiras, caso do Lehman Brothers.

No episódio do SVB, os juros altos têm um papel ainda mais direto. O banco tinha a maior parte dos seus ativos (ou seja, dos seus recursos) aplicada em títulos do tesouro norte-americano de médio e longo prazo. Porém, os seus passivos (suas obrigações) eram de curto prazo.

Com a alta dos juros nos EUA, esses ativos caíram de preço, mas isso não aconteceu com os passivos. Assim, o banco ficou com as contas "descasadas".

Já o Credit Suisse atravessa uma crise de confiança que se arrasta há anos, mas culminou agora em um problema estrutural graças a uma somatória de fatores, que combinam tanto questões internas quanto de mercado:

  • histórico de má governança que inclui acusações de fraude, suspeitas de lavagem de dinheiro e até espionagem de executivos;
  • apertos monetários pelos bancos centrais (sim, eles mesmos, os juros), que afetam a liquidez do mercado como um todo;
  • série de prejuízos seguidos, inclusive o último de 7,3 bilhões de francos suíços (quase US$ 8 bilhões) no ano passado;
  • quebra de instituições bancárias nos Estados Unidos, que contaminou o setor como um todo;
  • por fim, a revelação das "fragilidades materiais" nos balanços referentes a 2021 e 2022.

"A divulgação desta semana abalou a visão do mercado, que já olhava o Credit Suisse com desconfiança", diz William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue. "O banco relatou que o nível e a velocidade dos saques diminuiu, mas continua em patamar elevado. As retiradas corresponderam a 110 bilhões de francos suíços no quarto trimestre".


O cenário tem drenado os ativos do banco, que ficou com os índices de liquidez abaixo de limites estabelecidos pelo órgão regulador. Quando isso tudo veio à tona, a ação do banco despencou.

"O Credit Suisse vale hoje US$ 10 bilhões [um terço menos que seu valor de mercado cinco meses atrás], o título de proteção contra a sua quebra (Credit Default Swaps) está em patamares bem elevados, e os yields (retornos) dos títulos de dívidas do banco suíço estão pagando quase 10% em dólar, o que é bem elevado", avalia Alves.

O estrategista-chefe da Avenue explica ainda que existe um plano de reestruturação já em curso, mas o banco precisa reverter as saídas de capital e restaurar a quantidade de ativos sob gestão. "Caso o Credit Suisse não consiga mudar sua situação atual, o efeito adverso é de continuidade das perdas que, se perdurarem, podem levar o banco a uma situação mais extrema. É aí que mora o problema."

3) Por que o Saudi National Bank recusou investir mais no Credit Suisse?

O Credit Suisse teve problemas de liquidez no passado, quando o banco precisou buscar uma capitalização de mercado de US$ 4,2 bilhões. Nessa última rodada de capitalização, o Saudi National Bank comprou 10% do banco suíço, o que ajudou a melhorar a situação à época.

Quando saiu a notícia de que o banco saudita não vai socorrer o Credit Suisse, o mercado se assustou. "O presidente do conselho do Saudi National Bank explicou que eles não podem colocar mais recurso porque há um limite regulatório que estabelece para a instituição um teto de 10% de participação em outro banco", explica Alves.

4) O caso do Silicon Valley Bank tem a ver com o que está acontecendo no Credit Suisse?

A Autoridade Supervisora ​​do Mercado Financeiro Suíço (FINMA, na sigla em inglês) e o Banco Nacional Suíço (SNB) lançaram comunicado ao mercado nesta quarta-feira (15) reforçando que "problemas de certos bancos nos EUA não representam um risco direto de contágio para os mercados financeiros suíços".

Conforme a nota assinada pela instituições, o Credit Suisse "atende aos requisitos de capital e liquidez impostos a bancos sistemicamente importantes. Se necessário, o SNB fornecerá liquidez ao Credit Suisse."

O professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGVRafael Schiozer explica que os questionamentos que rondam o Credit Suisse sobre a sua capacidade de sair do prejuízo se somaram ao evento do SVB e levou investidores a se perguntarem se o banco suíço pode sofrer mais perdas com os apertos monetários, "um questionamento que, na verdade, pode recair sobre qualquer banco", diz.

Para ele, a alta dos juros não é o fator mais preocupante no futuro do Credit Suisse. O aperto monetário é uma notícia ruim para os bancos da perspectiva de gerenciamento de risco, mas Schiozer explica que o setor tirou lições da crise em 2008 e quase todas as instituições fazem hedge (estratégia de proteção do valor do ativo contra variações futuras).

"O Credit Suisse tem exposição às taxas de juros, mas é bem limitada. O que aconteceu no SVB foi exceção, porque o banco tinha uma gestão de risco realmente primária", diz o professor da FGV. Ele lembra que a instituição norte-americana não tinha um gestor de risco junto à gestão há mais de um ano. "E esse não é o caso da maioria dos bancos grandes, que aprenderam a fazer controle de riscos ao longo dos anos."

5) Quais são as possíveis consequências disso pra o mercado global?

Há uma crise de confiança no sistema bancário como um todo. E "para quebrar um banco, basta um boato", diz Alves, da Avenue. Esse clima de risco no setor contaminou principalmente outros bancos na Europa, onde há mais instituições sob desconfiança do mercado por trabalharem com níveis de rentabilidade baixos, serem pouco lucrativas, terem uma estrutura muito inchada e dificuldade de enxugar a operação.


Além dos correntistas, o risco mais evidente que o cenário oferece atualmente no mercado é o de prejuízo a bancos e fundos na Europa e nos EUA com grandes posições em passivos do Credit Suisse nas carteiras. Esses agentes correm o risco de perdas com uma queda livre e a possível insolvência do banco suíço.

Para Schiozer, este é o maior teste pelo qual a regulação que foi desenvolvida pós-crise de 2008 passa. Os mecanismos criados depois da crise do subprime buscam evitar que governos tenham que intervir e salvar os grandes bancos da quebra.


"Estamos num ambiente regulatório e de capitalização para os bancos muito melhor do que em 2008. As instituições estão muito mais capitalizadas hoje, e os bancos têm em média o dobro de capacidade de absorver perdas atualmente do que 15 anos atrás", diz o professor da FGV.

Mesmo depois de tudo ordenado, se o Credit Suisse ficar insolvente, resta ao mercado a confiança de sempre haver um plano de quebra de grandes bancos. Um primeiro mecanismo, neste caso, é o de conversão de dívidas em ações do banco, "é traumático, mas ainda é um dispositivo de proteção que faz com que os riscos sejam mais distribuídos e antecipados pelo sistema", diz Schiozer.


O segundo mecanismo de assistência garantiria a recuperação dos depósitos no banco, de forma semelhante ao que aconteceu com o SVB com a entrada do FDIC (Fundo Garantidor de Crédito dos EUA) mas que, no caso do Credit Suisse, seria uma cobertura parcial dos recursos depositados - e outra entidade, claro.

6) O Brasil pode ser atingido? Como?

"O Brasil tem pouca exposição direta a ativos de risco nos EUA e a bancos europeus, mas em toda crise financeira a tendência é de investidores migrarem para ativos mais seguros", diz Schiozer.

Da perspectiva externa, ao reduzir o risco da carteira, o investidor estrangeiro precisaria diminuir sua exposição a mercados emergentes. Aí, sim, o Brasil pode ser afetado. "É possível haver uma fuga de capital internacional, o que provocaria queda de ativos na bolsa brasileira e, como consequência, fuga também do investidor doméstico para a renda fixa", afirma.

Do aspecto de mercado, o aumento de desemprego e uma possível recessão na Europa e nos EUA poderia afetar a demanda por exportações do mercado brasileiro.



Para saber mais, acesse o link abaixo>

Fonte: Valor Invest / Por Beatriz Pacheco e Nathália Larghi, Valor Investe — São Paulo

https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/empresas/noticia/2023/03/16/o-que-aconteceu-com-o-credit-suisse.ghtml

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Web Science Academy; Hélio R.M.Cabral (Economista, Escritor e Divulgador de conteúdos de Economia, Astronomia, Astrofísica, Astrobiologia Climatologia). Participou do curso (EAD) de Astrofísica, concluído em 2020, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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